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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

EX-PRESIDENTE DO PT APOIANDO MARINA SILVA


O espectro marinista atormenta as mentes e corações petistas e psdebistas. O trágico falecimento de Eduardo Campos colocou inesperadamente Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima no centro do jogo sucessório presidencial, e com consideráveis chances de sair vencedora do pleito eleitoral. Isso numa disputa anterior insossa, que marchava para ser resolvida, provavelmente, no primeiro turno. Era o que apontavam as pesquisas eleitorais, com uma tendência de reeleição sem graves solavancos da presidente Dilma, nem que para isso fosse necessário um improvável segundo turno. 

Agora, perdurando o cenário atual, o desfecho das eleições presidenciais brasileira está indefinido e promete ainda muitos lances midiáticos, de mais mentiras que verdades. 

Uma pergunta a ser respondida: por que a candidata Marina causa tanto rebuliço na já assentada, previsível e maniqueísta disputa entre petistas e tucanos? Logo esta raquítica senhora de 56 anos de idade, filha de retirantes cearenses, de pai seringueiro e mãe dona de casa, que se enfronharam nas matas acreanas há mais de 60 anos, cuja adolescência viveu com sua família em uma palafita chamada Breu Velho, no seringal Bagaço, a 70 km do centro de Rio Branco/AC, que conheceu as primeiras letras do alfabeto aos 16 anos, nos bancos escolares do programa educacional da ditadura militar denominado MOBRAL, sobejo da morte em decorrência de inúmeros problemas de saúde, tais como: malária, contaminação por mercúrio e leishmaniose. 

Será a sua coerência e trajetória de vida? Ou a firmeza na defesa de suas ideias? Ou, ainda, o seu biótipo, que se confunde com o perfil miscigenado do povo brasileiro? Não me atrevo a tentar responder. 

Sei que para os tucanos uma nova derrota aponta para o esfarelamento de um projeto de retorno ao poder, após o fracasso em quatro disputas presidenciais sucessivas. Até aqui, o desempenho de Aécio Neves nas pesquisas eleitorais está aquém dos resultados eleitorais alcançados por José Serra e Geraldo Alckmin, o que sinaliza para uma mudança futura na estratégia e tática psdebista. 

Nas hostes petistas, Marina eleita, além da nostalgia de uma derrota para um ex-quadro das fileiras petistas, significará o esgotamento momentâneo do lulismo como instância infalível de construção das conquistas eleitorais em âmbito nacional. Acrescento como consequência ao revés eleitoral, a retração de uma parte significativa das elites partidária e sindical, com ramificações nos diversificados movimentos populares, de viés utilitarista, parasitário e dependente das arcas públicas. 

Aflige, também, ao estrelato lulista, a possibilidade de consolidação de um novo polo do centro-esquerda, sob liderança nacional de Marina e com um forte apelo político-eleitoral. Esse movimento recepcionará, inclusive, o êxodo de muitos parlamentares, dirigentes e lideranças petistas descontentes com os rumos incoerentes tomados pela agremiação partidária. 

Eis as razões para tanto ataque à candidata Marina, muitos deles que se aproximam do receituário propagandista do nazifascismo. 

Os tucanos, senhores da meritocracia não esclarecida, equiparam Marina à tradição petista dominante. Além de tentarem chamuscar a sua trajetória militante, omitem o seu rompimento com o PT, inclusive por razões programáticas, e seu esforço de construção de uma inovadora organização partidária intitulada Rede de Sustentabilidade. 


Candidata Marina Silva (PSB)

O repertório lulo/dilmista de desconstrução, ou “dessacralização” - o termo adotado pelos marqueteiros petistas -, de Marina é variado, ferino, e, sobretudo, desleal. Agarram-se a detalhes de sua trajetória, a aspecto comportamental ou a qualquer entrelinha de seu programa de governo – nesse particular, importa lembrar que até hoje, a menos de um mês da eleição, Dilma, assim como Aécio, não lançou seu programa de governo. Os petistas elegeram, no plano da política econômica, a autonomia/independência do Banco Central como temática básica para tentar caracterizar de liberal o conteúdo do Programa de Governo Marinista. Omitem que a entidade é uma autarquia, portanto, pelo menos juridicamente, detentora de autonomia. Os defensores do modelo atual de gestão monetária, arautos da ingerência política do chefe do Executivo Federal nas decisões colegiadas da entidade, não conseguem explicar o porquê do persistente descontrole inflacionário, do crescimento econômico pífio e da taxa SELIC tão atrativa para os sanguessugas dos mercados financeiros nacional e internacional. Ah, como sempre, culpam o cenário econômico internacional desfavorável! 

As vicissitudes do exercício do cargo de Presidente da República não permitem que uma candidata lacrimeje diante das críticas desonestas. Se as lágrimas transbordam do rosto esguio de Marina, sinaliza fraqueza, desequilíbrio emocional. Se escorrerem da rosada face de Lula, como já aconteceu em vários momentos de sua vida pública, é demonstração de sensibilidade ou externalização de sua liderança popular. 

Contrapõem-se à inovação nas relações políticas. Representa aventureirismo. Buscar governar com os melhores quadros, nem pensar. Como se Marina afirmasse que, no caso de vitória eleitoral, excluiria o Congresso Nacional como espaço estratégico de negociação política. Perdem de vista, os petistas, que o discurso do novo, da ética nas tratativas políticas e do compromisso com as mudanças estruturais lastrearam a caminhada partidária até a vitória de Lula em 2002. 

Hoje, depois de descambarem para o estreitamento de relações com o que há de pior na política brasileira, silenciam às imposições dos chefes oligárquicos. Como ficou escancarado na declaração debochada do Senador José Sarney sobre o poder de veto à indicação de Flávio Dino à presidência da Embratur, ou na nomeação e manutenção de Edison Lobão no Ministério das Minas e Energia. Isso sem que esse permanente fantoche de Sarney tenha formação técnica mínima exigida para o exercício do cargo, além de todos os indícios de participação no presente esquema de corrupção instalado na Petrobras. 

Não admitem o desabrochar de novos atores na mediação da política nacional. Aliás, olvidaram a máxima, dita e repetida por décadas, que uma das fragilidades da democracia brasileira era a ausência de agremiações partidárias programáticas. Atitude política tosca, para justificar, ao longo de 12 anos, o protelamento da reforma política, entre uma das mudanças estruturais imprescindíveis, porém esquecidas. 

Apregoam o medo, como medida para garantir as conquistas sociais e evitar uma Marina, tachada como inexperiente, na presidência da República. A mesma cantilena direitista utilizada contra Lula em 1989, 1994... Ainda, esquecem que o importante legado da ampliação das políticas de transferência direta de renda e dos investimentos nos programas educacionais é nitidamente contraposto por relações políticas nada republicanas. Intermediações que garantem a reprodução das anacrônicas oligarquias, principalmente no nordeste e norte do País, artífices estruturais da miséria e da fome daquelas milhões de famílias que clamam por um cartão do bolsa família ou uma vaga para os filhos no Pronatec. Ostentadoras de riquezas extraídas/arrancadas dos orçamentos públicos e dos projetos picaretas financiados pelos bancos oficiais. 

A voz rouca e contundente de Lula pedindo voto para as candidaturas de Lobão Filho, Renan Calheiros Filho e Helder Barbalho (filho de Jader Barbalho) simboliza a reafirmação das escolhas preferenciais do petismo. 

Por isso, voto em Marina, sem Medo de ser Feliz, com a convicção de que, mais uma vez, a Esperança vencerá o Medo.



*Salvador Fernandes
Economista
Servidor público federal
Ex-presidente estadual do PT/MA (1996-1999)

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